#01 - Quem sou eu?
Nessa newsletter, apresento o novo formato da Matryoshkaletter e falo um pouco sobre mim como autora :)
Olá,
Como vai você? Seja bem-vindo a Matryoshkaletter, a newsletter oficial do matryoshkabooks!
Aqui, falo sobre literatura, processos criativos e escrita desde 2021. Nessa nova versão, como você pode ver, o enfoque é ao meu projeto de publicação O Corpo de Laura. Trata-se da publicação de uma plaquete e, posteriormente, de um livro, explorando as linguagens da poesia e da fotografia.
No início deste semestre, esse projeto foi contemplado pelo ProAC - Programa de Ação Cultural da Secretaria de Cultura e Economia Governo do Estado de São Paulo - em primeiro lugar. Ou seja, o meu trabalho foi reconhecido e terá a sua publicação por meio de um Edital importante!
Passada a surpresa com a aprovação, penso na relevância em partilhar o que venho fazendo com o projeto, sua execução, minhas reflexões, dúvidas e indagações. Além de suscitar novos diálogos partindo da discussão que proponho em O Corpo de Laura, também tenho interesse em aproximar a minha dinâmica com o ProAC aos leitores, o que pode ajudar meus leitores a entenderem como é participar de um edital como esse.
Vem comigo?
Um pouco sobre mim: assim como a protagonista do meu livro, também me chamo Laura (rs). Mais precisamente, Laura Redfern Navarro (se pronuncia “Rédifãrn”). Nasci em 2000, em São Paulo, sob o céu de Aquário. Sou recém-formada em Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero (FCL). Mantenho uma página no Instagram voltada à literatura brasileira contemporânea chamada @matryoshkabooks. Antes de tudo isso (ou, ainda, permeando tudo isso), eu sou poeta e uma entusiasta da linguagem, principalmente pensando ela dentro do território do corpo, do sonho e do experimento. Nesse sentido, também cito minha formação nos cursos Poesia Expandida (2020) e CLIPE - Poesia (2021), ambos pela Casa das Rosas. Você pode conhecer meu trabalho aqui.
O que busco com a escrita? Como boa aquariana, acredito que escrever tem a ver com se colocar - enquanto corporeidade - em confronto com o mundo. Isso significa que a linguagem - e o exercício ficcional - são os espaços onde podemos ser quem verdadeiramente somos, reivindicar os nossos silêncios e, acima de tudo, criar novas possibilidades para existir.
Portanto, a escrita, para mim, ocupa esse lugar de construir-se enquanto sujeito no mundo em um exercício que também é político, já que entender-se enquanto sujeito é compreender-se enquanto participante de uma tessitura histórica e social. Nesse sentido, minha visão enquanto escritora encontra respaldo nas discussões feministas acerca das corporeidades dissidentes e do enfrentamento para com a violência de gênero, bem como na proposta da Esquizoanálise de Félix Guattari e Gilles Deleuze.
Deste modo, escrevo buscando propor novas possibilidades de linguagem para transmitir a experiência do corpo, ou seja, o corpo antecede a linguagem, e é indissociável desta. Procuro, assim, brincar com o texto pensando sua fluidez, sua fragmentação, seus silêncios, seus movimentos e sua multiplicidade. Gosto de tensionar a forma, brincar com elementos gráficos, arquetípicos, sinestésicos e com uma escrita de caráter ensaístico. Quero responder - o que é este corpo no mundo? - sabendo que esta resposta é fluida.
Quem são as minhas principais influências?
Gaston Bachelard (1884-1962) → químico, filósofo e poeta francês, Gaston Bachelard se enveredou principalmente pelos cruzamentos entre as áreas dos saberes (isto é, entre as ciências naturais, como a física e a biologia, e as ciências sociais, como a psicologia e a economia). Com uma produção profícua, ele também investigou esses cruzamentos dentro de uma “epistemologia do devaneio”, que se aplica ao fazer poético.
Para quem quiser conhecer: A Água e os Sonhos (1942) e A Poética do Espaço (1957)
David Lynch (1946) →multiartista norte-americano, David Lynch é mais conhecido por sua produção cinematográfica. Tecendo narrativas complexas (com temáticas como a violência contra a mulher e a realidade sombria do Sonho Hollywoodiano), ele traça um estilo original e crítico, apropriando-se de elementos sensoriais, atmosféricos e oníricos, com forte influência do Surrealismo.
Para quem quiser conhecer: a série Twin Peaks (1990-2017) e os filmes Twin Peaks: Fire Walk With Me (1992) e Mulholland Drive (2001)
Bruna Mitrano (1985) → nascida no subúrbio do Rio de Janeiro, Bruna Mitrano reivindica em sua poesia uma corporeidade dissidente, sendo mulher, lésbica, periférica e neurodivergente. Numa escrita afiada, quase como uma lâmina, ela não busca condolências de seus leitores, tampouco alçar um lugar social normativo, e sim afirmar seus atravessamentos enquanto sujeito. Deste modo, seus poemas também apresentam um caráter de denúncia, já que, ao suscitar diálogo e protagonismo, ela rompe para com um silêncio estruturante.
Para quem quiser conhecer: Não (2016) e o vídeo-poema Epiléptica (2021).
Alejandra Pizarnik (1936-1972) → uma poeta que insurge, essencialmente, do lugar da fronteira, Flora “Alejandra” Pizarnik era um corpo em conflito. Filha de imigrantes russos-judeus nascida na Argentina, Pizarnik era uma mulher de aparência andrógina, personalidade excêntrica e bissexual, desafiando, por si só, a definição de uma identidade cristalina. Em sua escrita, ela transmite justamente sua experiência enquanto subjetividade repartida a partir de elementos como a sensorialidade, o duplo e a introspecção.
Para quem quiser conhecer: Extração da Pedra da Loucura (1968) e Os Trabalhos e As Noites (1965), ambos com tradução de Davis Diniz
Stella do Patrocínio (1941-1992) → poeta cuja atribuição de “poeta” ainda é alvo de discussão, Stella do Patrocínio, mulher negra e pobre, foi forçosamente internada no Hospital Colônia Juliano Moreira, no Rio de Janeiro por apresentar comportamentos desorganizados, típicos da Esquizofrenia. Ao longo de sua internação, ela ficou conhecida por seus falatórios, isto é, momentos em que sentava-se à poltrona e falava, sozinha, acerca de sua percepção sobre si e sobre o mundo (abrangendo, também, a opressão e as violências às quais era submetida). Estes falatórios foram gravados, com sua autorização, pela equipe do Hospital, como parte de seu processo de arte-terapia. Foi reconhecido o valor poético, artístico e político de suas falas, cujas gravações, em 2001, foram transformadas em um livro - O Reino dos Bichos e dos Animais é o meu nome- com organização de Viviane Mosé.
Para quem quiser conhecer: a Performance muito bem patrocinada - falatórios de stela do patrocínio (2020) de Natasha Félix e Bianca Chioma, foi o trabalho que me introduziu aos falatórios de Stella do Patrocínio.
Nos últimos dois meses, tenho me dedicado com muito entusiasmo à reescrita, leitura crítica, mentoria fotográfica, arte de capa e edição final da plaquete O Corpo de Laura. Tem sido um processo louco revisitar e aprimorar essas ideias, bem como sua reverberação nos corpos-além-da-autora.
A plaquete fala muito dessa experiência do corpo-mulher-poema pelas ruas e lugares icônicos do Centro de São Paulo - o Theatro Municipal, a Rua 25 de Março e a Galeria Metrópole, principalmente - sob a luz da proposta modernista da Antropofagia. Algumas semanas atrás, já com o projeto “nos finalmentes” do processo editorial, visitei a Galeria. Não foi algo combinado, rs. Mas reencontrar aquele espaço (obs: e vivenciá-lo ao lado de alguém que não é tão familiarizado com o Centro) me colocou de frente com o processo de criação da plaquete. Como se eu conseguisse localizar aqueles poemas nos cantos da Galeria, sentir aquelas palavras, imagens e sensações emergirem em mim, à pessoa que estava comigo e ao espaço em si. Uma potente revisita àquele corpo-autora, que toma materialidade no meu corpo-autora atual :)
INDICAÇÕES:
#01 (LIVRO): A escrita curativa (ou de como voar com asas quebradas) - partes I e II, de Geruza Zelnys (Fábrica de Cânones)
Conhecida por pesquisar, explorar e desenvolver a Escrita Curativa, uma outra possibilidade metodológica a fim de pensar a escrita e a dinâmica das oficinas de criação, Geruza Zelnys apresenta, nos dois volumes de A escrita curativa (ou de como voar com asas quebradas), um olhar aprofundado acerca dos eixos teóricos, práticos e éticos em torno de sua proposta. A autora traça um projeto transdisciplinar, partindo e explorando, de forma radical, a noção do texto enquanto corpo.
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#02 (EVENTO) → BRECHA palavra < > som, com organização e curadoria de Flora Miguel e Jeanne Callegari
Projeto que busca explorar os cruzamentos entre a música (som), a poesia (palavra) e a projeção (imagem), BRECHA é um evento que ocorre mensalmente na Associação Cultural Cecília, em São Paulo. Atualmente em sua quinta edição, o evento traz apresentações performática de duplas - quase sempre, um poeta e um musicista - em meio à projeções digitais, de Gabriel Pinkalsky. Pelo BRECHA, já passaram nomes como Luiza Romão, Natália Agra e Valeska Torres.
Ficou interessado? Assista à gravação da última edição do BRECHA aqui: https://bit.ly/3VwOQTZ
NOVIDADES & LANÇAMENTOS
#01 - Ira, de Camila Martins, Flora Miguel e Priscila Kerche (Editora Primata)
Recém-saído da última chamada de publicação de plaquetes da Editora Primata, Ira é um diálogo-poético-político entre as poetas Camila Martins, Flora Miguel e Priscila Kerche. Partindo da concepção do filósofo sul-coreano Byung-Chul Han a respeito do sentimento de ira enquanto transformador, as três autoras exploram esse aspecto debruçando-se sobre temas como violência contra a mulher, fome e aborto. Trata-se de um projeto que, reafirmando a voz autoral de cada uma, propõe uma elaboração coletiva.
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#02 - REVISTA ABOIO #01 - Voz: Impressão do corpo, vários autores (ABOIO)
Lançamento da recém-inaugurada editora ABOIO, que se consolidou inicialmente como revista literária digital, a REVISTA ABOIO #01 - Voz: Impressão do corpo é a primeira edição física do projeto. Destacando-se por seu cuidado curatorial, editorial e estético, o projeto traz produções tanto em literatura quanto em artes visuais dentro do segmento corpóreo. Participam desta autores como André Balbo, Samara Belchior e Pedro Torreão.
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