#03 - Como surge a plaquete "O Corpo de Laura"?
Nesta newsletter, abro um pouco mais sobre os processos de criação que resultaram na plaquete (lembrando que ainda está em pré-venda no site da Mocho até o dia 19/01!)
Olá,
Como vai você? Seja bem-vindo a Matryoshkaletter, a newsletter oficial do matryoshkabooks!
Aqui, falo sobre literatura, processos criativos e escrita desde 2021. Nessa nova versão, o enfoque específico no meu projeto O Corpo de Laura. Trata-se da publicação de uma plaquete e, posteriormente, de um livro, explorando as linguagens da poesia e da fotografia.
No início deste semestre, esse projeto foi contemplado pelo ProAC - Programa de Ação Cultural da Secretaria de Cultura e Economia Governo do Estado de São Paulo - em primeiro lugar. Ou seja, o meu trabalho foi reconhecido e terá a sua publicação por meio de um Edital importante!
Passada a surpresa com a aprovação, penso na relevância em partilhar o que venho fazendo com o projeto, sua execução, minhas reflexões, dúvidas e indagações. Além de suscitar novos diálogos partindo da discussão que proponho em O Corpo de Laura, também tenho interesse em aproximar a minha dinâmica com o ProAC aos leitores, o que pode ajudar meus leitores a entenderem como é participar de um edital como esse.
Na newsletter de hoje, falo um pouco sobre como surgiu de fato a plaquete O Corpo de Laura, que está atualmente saindo do forno pela Mocho Edições. (Lembrando que faltam apenas uma semana para o final da pré-venda! Mais informações você confere na carta #02)
Vem comigo?
Cheguei no momento em que vejo a plaquete se materializar de fato, colocar-se no mundo. Ainda é difícil definir o que ela é, o que ela representa, para onde ela vai ou, ainda, qual é o corpo da Laura-poeta (com perdão do trocadilho) que habita este corpo de Laura-publicação? Por isso, resolvi resgatar a maneira como O Corpo de Laura (plaquete) foi concebido, em cada pequeno passo.
Pré-concepção: ao longo de 2021, amadureço meu em relação à poesia, compreendendo-a como um campo de criação estético-político, ou seja, que possibilita a criticidade sobre as narrativas, bem como a proposição de novas perspectivas. Esse amadurecimento vem acompanhado, também, de um experimento meu para com a linguagem fotográfica, desde o começo centrada em captar aquilo que me causasse estranheza . Estava interessada em investigar os eixos de intersecção entre a palavra e a imagem, entendendo ambas como possíveis extensões do sujeito e de sua percepção sensorial. Meu projeto poético, portanto, estava se enveredando por esse caminho. Em Agosto, utilizo pela primeira vez o título O Corpo de Laura em um texto, no qual senti uma reverberação para algo maior, algo além apenas de um texto simples, mas de um projeto maior.
Como surgiu? a plaquete O Corpo de Laura passa a ser elaborada em Setembro de 2021, a partir de duas provocações em contextos distintos entre si. À época, eu participava da oficina “Fotografia, Gesto e Escrita”, da arte-educadora paraibana Li Vasc, cujo objetivo final era a construção de um projeto de livro de fotografia; e cursava o 3o ano de Jornalismo, em que o trabalho final da disciplina de Cultura Brasileira consistia em elencar uma cartografia afetiva ou perceptiva dos espaços da cidade de São Paulo. Desse modo, tenho a ideia de unir as duas provocações (ou lições de casa) a partir de um experimento em torno d’“o corpo de Laura” em diálogo (ou duelo) para com a cidade, em especial o Centro Histórico - região em que trabalhei neste período, que também está historicamente associada à Semana de Arte Moderna de 1922.
Como fiz? Inicialmente, criei um documento com o planejamento da plaquete, elencando proposta geral, referências, materiais, número de páginas, etc. Com a aprovação tanto de Vasc quanto de meu professor, Alex Hilsenbeck, em relação ao projeto, fui construindo a plaquete a partir da minha percepção de como eu transitava por aquele espaço. Quase numa tentativa de flânerie, fui tomando notas, tirando fotografias, percebendo os encontros - fui me incorporando como o Corpo de Laura, mas tomando também o devido cuidado com essa vulnerabilidade.
Os textos, em sua maioria, foram escritos ao longo de uma ou duas semanas, em Novembro de 2021 - quase todos no bloco de notas - e foram editados a fim de compor, com as imagens, um repertório sensorial do corpo da personagem com a cidade.
No que diz respeito ao projeto, também houve um processo mais introspectivo de seleção dos textos e imagens iniciais, em que busquei identificar um eixo comum àquele material. Desta forma, também acabei procurando na minha produção poética geral, adicionando poemas mais antigos (Fun Fact: o poema “Deslocamento” é, na verdade, o poema do exercício do processo de seleção da equipe de poetas da Fazia Poesia de 2021).
Além disso, a primeira “edição” - a ser entregue - também contou com uma proposta de arte de capa e de diagramação elaboradas por mim.
O ProAC: a experiência com essa zine/plaquete foi bastante enriquecedora ao me colocar para pensar um eixo em torno de um projeto mais robusto com a ideia do Corpo de Laura, bem como a articulação entre a poesia e a fotografia. Desta forma, que consigo pensar e montar um esqueleto do livro que viria posteriormente, mas que, narrativamente, antecede a interlocução da personagem com a cidade.
Como reconheço que o livro não teria fôlego sem o exercício anterior, faço a inscrição no ProAC (um desejo que cultivo desde que começo a pensar em expandir as possibilidades estéticas e políticas de O Corpo de Laura), inscrevo ambos no mesmo edital, colocando-os como duas partes de um mesmo segmento. Afinal, com o edital, consigo viabilizar e dar corpo aos dois projetos, mas sem deixar de lado o caráter experimentativo da plaquete a qual proponho ser um teste de circulação da minha poética.
Finalização: a plaquete O Corpo de Laura foi finalizada somente em Setembro de 2022, um ano depois de sua elaboração, como parte do projeto que foi contemplado pelo ProAC 18/2022. Nesse meio-tempo, houve um momento inicial de auto-edição (com inserção e retirada de alguns textos) e a imersão na oficina “Sinestesia: Fotografia, Poesia e Cidade”, ministrada por Júlio Mendonça e Marco Aurélio Olímpio (Casa das Rosas), que resultou na produção dos poemas “Prelúdio” e “Cartografia”.
Publicação: o material final passou pela Leitura Crítica (de Layla de Guadalupe) e pela Crítica Fotográfica (de Simonetta Persichetti). Também foi elaborada, nesse período, a arte de capa da plaquete, que consiste em colagem digital da poeta e artista Michelle Soares (saiba mais sobre quem fez aqui). Nestes processos, a plaquete adquire maior firmeza a fim de ser encaminhada oficialmente para a Mocho Edições, que realiza os processos editoriais da plaquete - como diagramação, revisão, montagem do projeto físico, impressão e comercialização. A editora também é responsável pela organização do evento oficial de lançamento, que acontecerá nesta quinta-feira, dia 19/01.
Retomo a dúvida da seção anterior: qual é o corpo da Laura-poeta (com perdão do trocadilho) que habita este corpo de Laura-publicação?. Não sei muito bem ainda como responder quando me perguntam sobre a plaquete, me parece que há um universo imenso de coisas a serem ditas que não cabem em uma mensagem, em uma conversa. Ou, ainda, uma sensação de que ele ainda não está totalmente homogêneo. Que deixei algo passar.
Quando chegou a impressão dos exemplares aqui em casa, fiquei surpresa, de queixo caído, “olha como tá linda essa capa!!”, li e reli, li e reli. Animação misturada com ansiedade. A plaquete tem tantas formas de ser lida, eu nem tinha me dado conta!! Cada vez que abro, é como se eu estivesse lendo pela primeira vez, revisitando significados. Acho que os autógrafos buscam essa linha também, de puxar o fio de leitura que saquei naquele momento.
Por falar em autógrafos… Talvez esta seja a parte que mais me aterrorize. É sério. Tenho a letra grossa, fincada no papel, e, por ser muito acelerada, muitas vezes rasuro uma palavra ou outra; ou sinto que não consegui expressar tudo que eu gostaria para aquele ou aquela leitora. Nunca vi ninguém falar sobre isso, sobre como autografar pode ser uma tarefa difícil! Até montei, no meu exemplar, uma cartografia de como devo escrever em cada uma das plaquetes.
INDICAÇÕES:
#01 (NEWSLETTER): [MAGAZINE]
A [MAGAZINE] é uma newsletter de literatura e cultura, cuja curadoria, redação e arte são realizadas Diego Perez, antigo editor da finada revista Ensa.io. O veículo se propõe a trazer tanto textos em formato ensaístico (que abordam desde reflexões em torno do fim da ficção até o último álbum do polêmico rapper estadunidense Kanye West) quanto recomendações e impressões de produções em diferentes segmentos artísticos. A [MAGAZINE] também se destaca pelo tom impessoal, ácido e cirúrgico de Perez.
NOVIDADES & LANÇAMENTOS
#01 - Escritas fora do Centro, com Bruna Mitrano (Casa das Rosas)
urso Escritas fora do Centro é o novo curso livre promovido pelo Centro de Apoio a Escritores da Casa das Rosas, ministrado pela poeta carioca Bruna Mitrano (que já organizou outras atividades similares pela mesma instituição, como a oficina Poesia de Denúncia, sendo também professora do CLIPE - Poesia). Tratando de eixos como identidade e pluralidade sob uma perspectiva política inserida no cenário urbano, Mitrano explora a produção de poetas periféricas contemporâneas como Heleine Fernandes, Nina Rizzi e Stephanie Borges. A atividade será realizada por meio da plataforma Zoom. Serão disponibilizadas 300 vagas para participação on-line.
Quer saber mais? Você pode se inscrever por aqui: https://bit.ly/3ZqyVsP
#02 - Exposição Itinerante Poesia Expandida - 2022
A Exposição Itinerante Poesia Expandida - 2022 reúne trabalhos experimentais, que unem ou trabalham a poesia em intersecção com outras linguagens, dos alunos do curso Poesia Expandida (Casa das Rosas) de 2022. A Exposição acontece do dia 20 de dezembro de 2022 ao dia 31 de janeiro de 2023, na Casa Menotti Del Picchia, em Itapira - SP.
Quer saber mais? Você confere mais informações aqui: https://bit.ly/3ioFCuU