#23: Breve relato sobre sobrecarga & expectativas
Um desabafo sobre tudo que não te contam sobre os bastidores de se lançar um livro
Olá,
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Por aqui, falo sobre literatura, processos criativos e escrita desde 2021.
Ao final de 2022, migrei para o Substack e, desde então, dedico esse espaço para falar do meu projeto, O Corpo de Laura, que venceu o primeiro lugar do Edital de Publicação em Poesia do ProAC (Programa de Ação Cultural da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado de São Paulo).
Em uma plaquete e um livro, O Corpo de Laura busca explorar as linguagens da poesia e da fotografia a fim de investigar as temáticas do Corpo, da Identidade e da Linguagem no contexto do corpo feminino.
Nesta newsletter, quero compartilhar com você o meu processo com o projeto, refletindo também sobre a experiência de participar de um Edital.
O que vem rolando por aqui?
Nessa última semana, tenho continuado a me dedicar aos exemplares que chegaram aqui. Estou preparando os recebidos para jornalistas e influenciadores, bem como para quem participou do projeto. Acho importantíssimo contemplar cada pessoa que fez parte de tudo isso, seja como leitor crítico, como preparador de texto ou como autor dos paratextos. Como já venho dizendo há algum tempo, um livro não se faz sozinho, e cada função foi essencial para que O Corpo de Laura viesse ao mundo.
Vem sendo um processo totalmente artesanal, com direito a alguns mimos (surpresa!) que devem chegar por aqui lá pela semana que vem. Lembrando que ainda dá tempo de adquirir o seu com 15% de desconto promocional!
Tem sido também muito gostoso folhear e revisitar essa produção, agora corporificada. Estou relendo bem aos pouquinhos, apreciando as folhas e a disposição dos poemas e imagens no papel. Gratificante poder dizer: está vivo!
Outra boa notícia é que essa semana iniciei os encontros da oficina "Poesia, fotografia e liminaridade: 'eu era gases puro, ar, espaço vazio, tempo", com apoio da FaziaPoesia, que rendeu ótimas trocas. É uma experiência totalmente nova pra mim, mas acho que me saí bem.
Por falar em novas experiências, a publicação e o lançamento de um livro, com apoio de um edital grande (e, agora cristalizado para além da plaquete) também acaba entrando para o rol daquelas coisas que, num primeiro momento, podem ser absolutamente assustadoras.
E não porque não me orgulho ou tenho apreço pelo que fiz, a real é que eu não esperava que exigisse tanto. Passada a parte gostosa do processo criativo, a sensação que dá é de, às vezes, se sentir um pouco desconectada daquilo que realizei. Confesso que a ansiedade é imensa, e as expectativas são maiores ainda. Preciso vender, preciso aparecer na mídia, preciso encontrar leitores - e nada nunca parece ser o suficiente.
Como tem falado escritoras como
e , a síndrome da impostora, postulada principalmente por expectativas individualistas que nada contemplam uma vida multifuncional, que envolve trabalhar, estudar, tarefas domésticas, cuidar da forma física e dedicação às nossas relações, muitas vezes nos induz a essa espécie de buraco sem fundo embasado principalmente por comparações - muitas vezes com pessoas que nós admiramos - e, por consequência, pela frustração.Eu não gostaria de ter que admitir, a essa altura do campeonato, que essas emoções tão pobres, tão negativas e tão desalinhadas com os meus valores tem me tomado. Não estou triste, infeliz ou passando por algum problema, e, sim, me realizando naquilo que sempre almejei desde criança. Não venho aqui também exigir condolências, venho falar de um fenômeno que parece acometer as mulheres escritoras, principalmente, nessa realidade tão dominada pelo viés capitalista e pelas redes sociais, onde todo mundo parece ser feliz.
Já comentei por aqui que, na época da plaquete, o ato de se vender era bastante desafiador para mim. Eu me preocupava muito em não ser inconveniente, não ser muito insistente, etc. Venho aprendendo - muito pelo meu trabalho na assessoria - que casos "insistentes" ou "inconvenientes" são mais extremos e bem específicos. Que é importante a gente se colocar, especialmente se estamos oferecendo algo de forma sincera.
Por outro lado, me bate às vezes o pensamento de que: será que estou projetando coisas demais para mim? Há alguns meses, por exemplo, eu ficaria muito acanhada de falar com algum influenciador importante. Hoje em dia mesmo percebo que sou bastante elusiva quando me convidam para bate-papo, entrevista, etc. Já perdi algumas oportunidades pela minha timidez. Na verdade, nem sei se dá pra chamar de timidez, e, sim, um medo de estar incomodando o outro, que (sempre) tem muito mais a oferecer do que eu.
Como tenho tido um aprendizado constante e diário nesse sentido como a "Laura da com.tato", estou começando a ficar menos "bicho do mato" e mais propositiva no que tenho a oferecer, seja uma sugestão de pauta ou o meu próprio livro. Pode parecer algo bobo, mas superar o combo do medo insistente + inconveniente + autocentrada vem dando lugar a uma persona muito mais amadurecida e autônoma, uma pele da qual eu gosto muito de habitar.
Ainda assim, é nessa Laura, muitas vezes, que também se engendra uma necessidade de se colocar de forma extremamente perfeccionista, como se não houvesse o direito à tentativa e nem ao erro (por exemplo, de vender um livro), mas à certeza. E é aí que a síndrome da impostora (agora um tema recorrente nessa newsletter) me atinge, nesse lugar de tá vendo? Se deu errado, não era nem pra ter tentado mesmo.
Mas eu vou continuar de pé. E tentando.
Apanhadão geral da semana
Por aí:
Poemas de O Corpo de Laura na Ruído Manifesto: https://bit.ly/3Pf8WBB
Poemas de O Corpo de Laura na Revista Sucuru de Agosto: bit.ly/3sDm9eE
Pelo meu Instagram:
Processo de escrita de O Corpo de Laura: bit.ly/3PjCLkr
Leitura de poema por Maíra dal'Maz: bit.ly/45NWePq
Foto da autora com a obra: bit.ly/45zSvp1
O Corpo de Laura indica
LIVRO: Caminhávamos pela beira, de Lolita Campani Beretta (
)A partir de uma poética investigadora e onírica, já presente em Despertar todo Sonho, livro anterior de Beretta, Caminhávamos pela beira é atravessado por poemas concisos e, em muitas ocasiões, escritos em prosa. Ao longo da obra, o eu-lírico passeia pela memória e pelo sentir do corpo, em especial o movimento dos pés, muito adequada à temática do caminhar explicitada pelo título. A organização dos textos e o projeto gráfico também reforçam essa proposta, contribuindo positivamente para a leitura.
🔗 compre aqui: bit.ly/3OZSXGf
PODCAST: As camadas do nosso peito envoltas em luto, loucura e poesia - com Bianca Monteiro Garcia, de Podcast Rabiscos
Neste episódio do podcast Rabiscos, a entrevistada é a escritora e editora Bianca Monteiro Garcia que conversa a respeito de ”Breve Ato de Descascar laranjas" (7 letras & Macabéa Edições), seu novo livro de poemas, em que assume e acessa os próprios conflitos e vivências, perpassando temas como luto, perdas, loucura e pandemia.
🔗 ouça aqui: bit.ly/3EkLD2T
É muito curioso acompanhar o seu amadurecimento quanto essa questão. Percebe-se que ainda existe um "growing pains" mas que logo log tu vai estar craque nisso também.
Obrigada por me citar, querida! E confiança no processo! Essa sensação é bem comum e precisamos ser fortes e acreditar 🧡