#28 Dia Nacional do Livro | Como é publicar por meio de um edital?
Um pouco da minha experiência de publicação pelo ProAC/2022
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Por aqui, falo sobre literatura, processos criativos e escrita desde 2021.
Ao final de 2022, migrei para o Substack e, desde então, dedico esse espaço para falar do meu projeto, O Corpo de Laura, que venceu o primeiro lugar do Edital de Publicação em Poesia do ProAC (Programa de Ação Cultural da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado de São Paulo).
Em uma plaquete e um livro, O Corpo de Laura busca explorar as linguagens da poesia e da fotografia a fim de investigar as temáticas do Corpo, da Identidade e da Linguagem no contexto do corpo feminino.
Nesta newsletter, quero compartilhar com você o meu processo com o projeto, refletindo também sobre a experiência de participar de um Edital.
Dia Nacional do Livro | Como é publicar por meio de um edital?
Muito me é perguntado sobre como funciona o ProAC, como é o processo, etc. Nessa edição da newsletter, que também celebra o Dia Nacional do Livro (amanhã, dia 29/10), venho me debruçar de forma um pouco mais clara a respeito dessas questões.
Em primeiro lugar, acho imprescindível localizar a relevância da possibilidade de financiamento externo, principalmente público, para a realização de qualquer atividade cultural (e não só a literatura) pensando o contexto brasileiro. Cá entre nós, é frustrante a precariedade de recursos disponíveis ao fazer artístico, sendo ela, na minha visão, um verdadeiro empecilho à liberdade de criação.
E esse empecilho vem afetando, em especial, formas culturais fora do circuito: seja por trazerem vozes descentralizadas, por questionarem o status-quo da arte, por se colocarem formalmente diferenciadas do que geralmente encontramos por aí. Isso, aliás, talvez tenha sido uma das minhas grandes motivações em tentar o ProAC - a possibilidade de explorar um projeto híbrido, em que forma, conteúdo e o livro como objeto seriam pensados com cautela.
É claro que outras motivações existem - afinal, essa possibilidade é um direito nosso, enquanto trabalhadores de cultura, que talvez nem precise de justificativa. Porém, preciso partir deste ponto para arrematar a minha experiência com o Edital.
Em 2021, ficaram nítidas para mim 1) a importância do investimento financeiro na sustentação de um projeto mais ousado e 2) a importância política da poesia (e da cultura como um todo) enquanto elemento de desconfiguração do discurso comum e de configuração de uma voz autêntica, mas que muitas vezes encontra dificuldades para encontrar leitores, público, chegar em influenciadores, chegar em pessoas de fora do círculo, etc.
Tentar o Edital, então, acaba sendo a saída que encontro para investir de forma mais profunda na autenticidade da minha voz e, ao mesmo tempo, na tentativa de pluralizá-la. Foi um processo. Ao final do ano de 2021, quando decidi que iria me inscrever, fui compondo um esqueleto do que seria (ou do que pensei que seria) "O Corpo de Laura", pontuando a publicação, a escolha da editora, o número de exemplares a serem impressos, o cronograma de atividades relacionadas ao Edital, a proposta de contrapartida, a estratégia de divulgação, documentos para inscrição, etc.
Por sorte, eu não estava sozinha - a minha editora, a Deborah Leanza, me ofereceu uma espécie de consultoria durante o processo de inscrição. Também contei com o suporte moral de alguns amigos. Mas eu não imaginava que, jovem e desconhecida do jeito que eu era, venceria, muito menos em primeiro lugar. Aquilo era mais uma tentativa para "ver como funcionava".
Uma vez dentro, sinto que amadureci horrores. Se existe uma palavra que possa defini-la, essa palavra seria "organização". Seja mantendo a contabilidade em dia (isso é importante) ou planejando certinho cada etapa do processo, há uma intensa dedicação ao processo criativo.
Quase como se escrever fosse um segundo emprego, e que até pode ser, já que o financiamento pode contribuir para a renda pessoal do proponente.
Além disso, sinto que o processo com o Edital exige a mesma disposição de energia criativa que eu, como artista, tenho como desejo. Durante este ano, vivenciei uma autonomia muito grande dentro da concepção de "O Corpo de Laura", seja dentro dos processos editoriais, seja dentro da produção escrita, seja dentro da divulgação. Há uma força imensa que emerge de tudo isso, e é possível que, dentro de uma publicação mais default, não houvesse a possibilidade de explorar todos esses espaços de forma criativa.
Aliás, vejo que acabei tomando contato de forma muito profunda com a ideia de processo. O esqueleto que montei inicialmente foi se ramificando, se transformando de forma quase visceral, como um acontecimento. É pulsão de vida. E algo muito prazeroso.
Entendo que o Edital também ganhe muito não só na valorização do artista, mas dos trabalhadores de cultura num geral. Isso acontece pela contratação da equipe que trabalhará no projeto, o que envolve outros segmentos para além da edição em si - como a preparação de texto, a leitura beta, a leitura crítica, a assessoria de imprensa - que nem sempre são acessíveis para escritores independentes.
Entretanto, já digo - essa é uma experiência para quem a sustenta, para quem tem um compromisso com a própria criação. E que muitas vezes também pode se mostrar algo muito distante da realidade, seja pela dedicação que se exige, seja pela falta de trocas no meio artístico a respeito dessas modalidades. A gente precisa, cada vez mais, falar mais sobre a burocracia e sobre processos de inscrição, prazos, etc. Sobre isso, não há dúvida. Eu garanto, porém, que é uma grande oportunidade para a gente não só valorizar, mas repensar a cultura como um todo.
Apanhadão geral da semana
Nas redes:
Leitura de poema de "O Corpo de Laura" por Literatamy: https://bit.ly/498qkzB
Resenha de "O Corpo de Laura" pela Cidade Poética: https://bit.ly/3Qwfc8A
CONVITE: Sarau Feminino Infinito, no dia 29/10: https://bit.ly/3Mlaisq
O Corpo de Laura indica
(dessa vez, só livros contemplados por Editais :) )
ROMANCE: Torrente, de Vanessa Malagó (Editora Patuá)
Primeiro romance de Vanessa Malagó, Torrente foi contemplado com o edital do ProAC 2022. A partir de uma narrativa densa, que lança uma lente de aumento para a vida afetiva de múltiplos personagens, aqui é colocado em jogo a presença do conflito - esteja ele presente dentro do pensamento ou da vida, seja ele relevante ou não - dentro da forma como se constroem essas relações.
🔗 compre aqui: https://bit.ly/45L2PtJ
POESIA: Concha s.f. casa à deriva, de Sara de Melo (Editora Quelônio / Voamundo)
Concha s.f. casa à deriva traz a perscruta poética da bióloga e escritora Sara de Melo em torno de conceitos como corpo, casa, espaço e memória. Possui apresentação de Carla Kinzo. Recebeu apoio do FAC-DF (Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal)
🔗 acompanhe por aqui: https://bit.ly/3Fyam4i