#30 Diário de Processos | Novas formas para o Corpo
Relato intimista de uma poeta que resolve se envolver com teatro e performance a partir da Oficina "Sem Registro", da SP Escola de Teatro
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Por aqui, falo sobre literatura, processos criativos e escrita desde 2021.
Ao final de 2022, migrei para o Substack e, desde então, dedico esse espaço para falar do meu projeto, O Corpo de Laura, que venceu o primeiro lugar do Edital de Publicação em Poesia do ProAC (Programa de Ação Cultural da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado de São Paulo).
Em uma plaquete e um livro, O Corpo de Laura busca explorar as linguagens da poesia e da fotografia a fim de investigar as temáticas do Corpo, da Identidade e da Linguagem no contexto do corpo feminino.
Nesta newsletter, quero compartilhar com você o meu processo com o projeto, refletindo também sobre a experiência de participar de um Edital.
Diário de Processos | Sobre as outras possibilidades do Corpo
Comecei a frequentar uma Oficina de Performance Cênica. Isso já era um desejo meu antigo, que talvez tenha começado a nascer na Pandemia, nos princípios de O Corpo de Laura. Sinto que experimentar o corpo poético com mais liberdade é o que me falta. Mas, por conta da timidez e da falta de tempo, jamais tive coragem.
Mês passado, meu analista me provocou a pesquisar não só a escrita em si, mas o ato cênico. Segundo ele, a minha imersão com a literatura, em sua intensidade, poderia também resultar numa espécie de "saco cheio" criativo. Eu concordei. E decidi ir atrás, com o objetivo primário de trabalhar a tessitura de O Corpo de Laura sob esse aspecto.
Essa semana, então, comecei a frequentar a Oficina "Sem Registro", uma iniciativa da SP Escola de Teatro que pretende investigar dispositivos dramáticos e cênicos dentro da criação de narrativas autoficcionais a partir (essa parte, confesso que acabou me passando batido) da temática da paternidade. Que não tem tanto a ver assim com O Corpo de Laura (aliás, eu acredito que, na obra, sobressai muito mais questões relacionadas à maternidade e às simbioses entre mãe e filha), mas que, ao mesmo tempo, acho bastante positivo por me desafiar a trabalhar de forma mais espontânea.
Realizada às segundas e terças-feiras à noite, posso dizer que minha semana começa de forma bastante intensa e repleta de atividades, conceitos e contextos fora do meu repertório. Fui apresentada a uma ferramenta de atuação conhecida como view-points, que propõe, essencialmente, o contato com o agora a partir da sistematização tempo + espaço + corpos em movimento.
Basicamente, uma conexão com o próprio Corpo - algo que pesquiso como poeta.
De corpo inteiro, porém, trata-se de uma experiência inteiramente diferente, em que o sentir - ou, ainda, o sentir coletivo - é a regra máxima. Sem racionalização, só você, seu corpo e o que ele traz em relação com o espaço, com o tempo, com o corpo do outro.
Para mim, me permitir a tal vulnerabilidade não é fácil. Sentir-se ridículo, sentir-se aberto, sentir-se conectado: confesso que me vi muito travada num primeiro momento - inclusive fisicamente. Porém, me agarrei a essa sensação de estar sendo desafiada e, mais do que isso, de construir uma nova relação com o meu corpo (não exatamente o corpo da personagem do livro).
No segundo encontro, portanto, decidi largar mão de levar somente a obra para trabalhar em cena. Aliás, levar esse projeto para um outro curso com proposta similar anteriormente não me permitiu uma entrega tão forte. Preciso criar o agora, entender os mecanismos dos view-points, experimentar meu corpo. Depois, se ainda for meu desejo, incorporo tudo isso em O Corpo de Laura.
É curioso, porém, que tanto os ministrantes quanto alguns de meus colegas de curso - com quem comecei a interagir mais no segundo encontro, já me observando mais aberta e à vontade com a proposta - ficaram bastante interessados pelo livro, me encorajando a colocá-lo em cena em algum momento. Mesmo que ele só pudesse se relacionar com esse movimento a partir de uma temática oposta - a maternidade, nesse caso, e não a paternidade.
Na prática, curiosamente, só me é possível pensar a paternidade a partir da maternidade.
Na verdade, sinto que há um interesse crescente meu em relação a essa questão especificamente - seja pelo ENEM deste ano, seja por uma autora que venho atendendo na com.tato, a Luciane Rodrigues, que publicou Maternidade com autoamor: práticas para mães exaustas (Editora Labrador), seja pela minha tentativa de querer entender mais profundamente o que realmente concebe as relações entre mães e filhas. A mãe da minha personagem me deixa com um verdadeiro ponto de interrogação na testa, não sei se consigo de fato explicar a relação entre elas (ainda).
/talvez precise de mais corpo nisso aí/
De todo modo, e, voltando ao assunto, me vejo agora mais vigorosa. O corpo, na prática, é o novo capítulo de O Corpo de Laura.
Ou algo além, quiçá,,
Apanhadão geral da semana
Nas redes:
Convite - Palestra Mulheres & Escritas do Corpo na Biblioteca Anne Frank: https://bit.ly/3uemSDA
Resenha de "O Corpo de Laura" no YouTube da Aline Aimée: https://bit.ly/461PTji
O Corpo de Laura indica
LIVRO: Morda meu coração na esquina, poesia reunida de Roberto Piva (Companhia das Letras)
Organizada por Alcir Pécora, a antologia Morda meu coração na esquina traz um escopo da poesia de Roberto Piva (1937-2010), nome importante do Surrealismo brasileiro, reunindo produções como Estranhos Sinais de Saturno e Paranóia, bem como fotografias de Wesley Duke Lee, que integram o projeto poético de Paranóia. A obra é farta também no que tange aos textos de apoio, que engloba tanto a apresentação de Pécora quanto a fortuna crítica de Claudio Willer, Eliane Robert Moraes e Davi Arrigucci Jr.
🔗 compre aqui: https://bit.ly/466sJZ4
PODCAST: Imposturas Filosóficas
Procurando por algo novo para ouvir, descobri muito recentemente o podcast Imposturas Filosóficas, interessante iniciativa que busca discutir de forma didática e “fora da caixa” temas que vão da crise ambiental/climática à questões subjetivas, como o conceito de alma.
🔗 escute aqui: https://bit.ly/3ueOict
Adorei sua newsletter, Laura! Obrigada pela menção. Depois me conta suas impressões do meu livro, estou curiosa pelo seu retorno. Beijos